Tony Amado e Sebem são duas referências e principais impulsionadores deste género musica
REDAÇÃO:
SÓ FALAMOS DE KUDURO
REVISÃO: MANO L7
Os estudiosos da contemporaneidade musical angolana
estão em condições de reunir material disperso, incluindo depoimentos de
artistas e protagonistas de reconhecido mérito, sobre a história e discografia
do género kuduro, visando a sua sistematização e integração no âmbito dos
Estudos Culturais Angolanos, de nível universitário.
A
proposta de sistematização da história do kuduro, que pressupõe um debate
alargado entre investigadores e artistas, pretende analisar e dar conhecer o
estado actual deste género musical com o objectivo de encontrar consensos
possíveis para a sua estabilidade periodológica, conhecer as diferentes fases
do Kuduro no feminino, reflectir sobre a génese das letras das canções,
aconselhar a reutilização das conquistas de Angola, ao nível da educação,
saúde, construção de infra-estruturas, educação cívica, e preservação dos bens
públicos nas composições musicais, numa perspectiva de associar a arte à
educação patriótica.
Pelas
características estéticas, rítmica peculiar e propósitos textuais, a análise
comparativa do kuduro deve ser empreendida no interior deste género musical,
pelo que se nos afigura descabido, aproximar o kuduro às correntes musicais
mais preocupadas com arranjos e construções elaboradas, do ponto de vista
harmónico e melódico.
Será
pertinente reforçar o intercâmbio cultural e comercial entre editores,
produtores e distribuidores da discografia do kuduro, transformar os
depoimentos numa fonte bibliográfica de documentação e registo para a
posteridade, criar um site para a divulgação da história e perfil profissional
dos cantores e compositores do kuduro, que vão fazendo história.
PRÉ-HISTÓRIA
A pesquisa sobre a origem, formação e
contextualização social do kuduro passa pela investigação da sua pré-história,
ou seja, o conjunto de eventos anteriores à sua formação, enquanto género
musical estruturado.
O
período que vai de 1982 a 1983, há um conjunto de ocorrências fundamentais, no
domínio da dança, protagonizados pelos dançarinos de break, Paulo Kumba, Elvis,
João Dikson, e Pataca no terraço do prédio Hitachi, Bairro Alvalade, Cine
Atlântico, campo de jogos dos Leões de Luanda, e nos ginásios das escolas,
Mutuya Kevela, Ngola Kanini e Ngola Kiluanji.
Teve
igualmente influência na configuração actual do kuduro, enquanto dança, o movimento
da cabetula, com os Originais da Cabelula, Beto Kiala e Pedruce, e o movimento
da vaiola com Cifoxi e Zé Vaiola.
Estamos
numa época em que os concursos de dança nas escolas eram apresentados pelos
radialistas Adão Filipe e Octávio Kapapa, da Rádio Nacional de Angola, Balduíno
Carlos, Ernesto Bartolomeu e Cláudia Marília, da Televisão Pública de Angola,
sendo justo incluir na análise da pré-história, os programas, Explosão e
Horizonte, da Televisão Pública de Angola. Nesta época, a dança era mais importante
que a música, e as primeiras batidas de Kuduro não tinham letra, fenómeno que
surgiu depois com o surgimento de Tony Amado.
FORMAÇÃO
No entanto, julgamos pertinente lembrar que estão na origem e formação
do kuduro, os clássicos, Jacobino (1998) e Felicidade (1999), temas musicais
gravados pela primeira vez pela Gael Music, dos empresários senegaleses Mamadu
e Hamidu, com textos de tipo narrativo, bem ao estilo do Sebem, propostas
musicais que fizeram do kuduro, um género musical de fácil identificação
rítmica, com alguma consistência estética e forte peculiaridade sonora, aliada
à inegável contribuição das coreografias “desconstrucionistas” de Tony Amado,
dois nomes que emergem, de forma automática, quando a abordagem é a origem e
formação do Kuduro.
Contudo
são anteriores ao tema Jacobino as canções: “Dance, dance k’dance Van Dame”
(1994) e “Ambakuduro (1994), a última captada no estúdio de João Alexandre, com
participação especial de Big Nelo. Seguiram-se os temas Muadiakimi Kuduro
(1995), produzido por Beto Max, Mongoloi (1997) e Feijão Duro (1997) de Caló
Pascoal, dos Necaf Brothers , um dos primeiros grupos influenciados pela
estética sonora e coreográfica proposta por Tony Amado. Estávamos numa época em
que eram vulgares os espectáculos de kuduro e rap, promovidos pelo entusiasta
Lito Capitalista.
DANÇA
A dança, um dos suportes paradigmáticos do kuduro, embora
estruturalmente vizinha do break-dance norte-americano, foi inspirada numa
plasticidade coreográfica reconhecidamente angolana, procurando, de forma
natural e progressiva, um acabamento musical em que a melodia e a harmonia são
visivelmente relegadas para um plano secundário, sobrevalorizando-se o ritmo e
a palavra inusitada.
“Vaca
Louca” e “Salsicha”, dançarinos de Tony Amado e depois de Sebem, são dois nomes
de referência incontornável, que levaram ao apogeu a plástica mais arrojada da
dança acrobática do kuduro.
LINGUAGEM
Acreditamos que o kuduro vai possibilitar a compreensão, pela crítica do
pós-kuduro, da dinâmica social de uma época, onde o erro gramatical, sobretudo
aquele que, de forma recorrente, recai sobre a flexão e concordância verbais e
os neo-logismos lexicais, serão avaliados como elementos de pertinência e
avaliação estética, importa reter este aspecto, ou seja, será o compositor a
ser julgado perante a “desconstrução” da sua própria circunstância linguística.
Curiosamente, o recurso à norma linguística do português europeu nas
composições “kuduristas”, pode retirar a identidade e estética do kuduro.
ANGOLANIZAÇÃO
É assim que se empreende a angolanização da batida tecno e da
housemusic, um estilo musical electrónico que surgiu em meados dos anos oitenta
nos EUA, mais propriamente na periferia de Detroit, com forte influência alemã,
num processo que fundiu o ingrediente da rítmica do Semba, às formas
entrecortadas do dizer poético, muito características do hip-hop.
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